As eleições, os candidatos, as propostas, um estadista.

O s brasileiros não têm visto nos debates ou nas entrevistas de que participam os presidenciáveis da próxima eleição algum candidato que tenha propostas com grandeza tal que se possam dizer de Estado.

Todos mais ou menos respondem questões pontuais voltados a agradar o eleitorado. Não é fácil escapar disso, pois, se o político não alcançar as expectativas das pessoas e não o fizer com compreensibilidade, não recebe votos.

Nas diversas sabatinas, prevalece o apelo popular fundado em generalizações repetidas em programas de eleições passadas, sabidamente listadas por estarem nas relações de preocupação da população.

De toda forma, se algumas diretrizes não têm importância alguma, fazendo-se meramente apelativas, outras merecem ser destacadas por sua importância. Sem o cumprimento de algumas delas, aliás, o Brasil empaca.

Álvaro Dias: generalidades desprovidas. Afirmar corte linear de 10% em todas as despesas do governo federal é uma temeridade. Há despesas redutíveis, sabidamente há desperdícios, mas há outras que solicitam aumento.

Também, referir a redução em 60% do número de assaltos e homicídios no País soa eleiçoeiro. Já a previsão de reforma tributária e da previdência são correspondentes às responsabilidades de quem pretende ocupar a Presidência.

Ciro Gomes: a promessa de “tirar o seu nome do SPC” me soa pândega. As propostas que preveem um papel indutor do Estado no desenvolvimento econômico parecem-me boas, desde que não privilegie relações de interesse.

Cabo Daciolo:  Aumentar gastos em educação e melhora de problemas de saúde e de violência urbana por meio da prevenção. Generalidade para qualquer programa; não faz sentido sem demonstração de meios.

Geraldo Alckmin: Foca economia e segurança pública, o que está muito bem, mas não especifica ações, o que resta mal. Promete ampliar o combate à corrupção, medida que está conforme a solicitação do Brasil mais honesto.

Guilherme Boulos: recuperar contas públicas com ampliação de impostos dos mais ricos; ótimo. Aumentar impostos da indústria e da agropecuária; parece ruim. Reduzir imposto sobre consumo; generalizado, bem ruim.

Sua pretensão de aprovar em consultas, plebiscitos e referendos propostas suas que não passem pelo crivo do Congresso chama-se bonapartismo. É a fala do governante diretamente com as massas. Isso sobra em autoritarismo.

Henrique Meirelles: defende reformas necessárias, o que é corajoso, pois sabe que esses assuntos podem significar perda de votos. A expressão programática de criação de empregos com oportunidades para jovens é generalidade.

Jair Bolsonaro: ajuste liberal na economia, redução do Estado, venda de ativos da Petrobras. Inúmeros países são exemplo da pertinência de tais medidas, mas há uma condição sem a qual a opção seria um fracasso.

Precisaríamos contar com capitalistas dispostos a investir.  A nossa tradição, à direita é à esquerda, contudo, é de investimento lastreado em empréstimo de dinheiro público. Disso adveio muito da corrupção petista.

Promete a continuidade de programas sociais; seus pronunciamentos, todavia, não demonstram simpatia por nada relacionado à ideia de social. As referências que faz à contenção de violência urbana são polêmicas.

João Amôedo: pretende um Estado enxuto. Fala em mexer no sistema político, mas, em tese. Não especifica medidas. A defesa de maior inserção do Brasil na economia mundial, igualmente, carece de detalhes.

João Goulart Filho: dobrar o valor real do salário mínimo até o fim do seu governo e reduzir taxa de juros são afirmações genéricas. Já, interessante a sua preocupação com investimento em fontes renováveis de energia.

José Maria Eymael: refere genericamente a diminuição da carga tributária bem como garante que fará o Sistema Único de Saúde funcionar. Vale, contudo, o ter trazido a debate a universalização do acesso ao esporte amador.

Luiz Inácio Lula da Silva: está, parece, imolando o PT por sua própria figura. Mudando o candidato, contudo, permanece o programa. Promete alteração no Poder Judiciário. Assunto importante; o motivo petista, todavia, é revanche.

Reforma política com participação popular: afirmação de valor simbólico, mas há o risco de justificar tentações bonapartistas. É coerente o compromisso de superação da pobreza e da educação como prioridade estratégica.

Marina Silva: Claramente defende reforma política, tributária e previdenciária. Atitude elogiável. Quer o Banco Central autônomo, mas não ousa propor independência institucionalizada, então, não vale.

Vera Lúcia: oferece generalidades. Obras públicas gerarão emprego e resolverão problemas estruturais. Aumentará salários e aposentadorias. A reforma trabalhista será revogada. Afirmações simpáticas e sem lastro.

Nenhum programa está suficiente, mas a maioria contém matérias relevantes. Sou grato aos candidatos por estarem lá. Alguns têm capacidade de governar. Estadista é mais que governante. Que vença quem saiba sê-lo.