CUIDADO COM A NORMOSE

Prof. Dra. Luciana Flor Correa Felipe

Comecei a refletir sobre a normose a partir da observação e reflexão sobre alguns fatos e comportamentos que fazem parte de nossa vida cotidiana e, por consequência, de uma suposta “normalidade”.

Por exemplo, o nosso apego e atenção aos celulares e dispositivos eletrônicos – estamos o tempo todo conectados, geralmente com quem não está por perto e, mas muitas vezes deixamos de olhar para quem está ao nosso lado. Ou seja, sabemos mais sobre o que acontece com quem está longe, do que sobre quem está fisicamente conosco. Nesta mesma linha podemos citar outros exemplos, como o corre-corre de fim de ano, o grande volume de lives (em tempos de pandemia), o estresse, a falta de tempo… tudo é normal.

No entanto, essa visão de que está tudo bem, certo, dentro dos “conformes” e do normal, é algo que nos anestesia, que não nos permite fazer escolhas livres, porque estamos baseados em estados normais ou “normóticos”.  Nesta perspectiva, a normose ocorre quando o contexto social que nos envolve caracteriza-se por um desequilíbrio crônico e predominante.

O conceito foi cunhado pelo psicólogo e antropólogo brasileiro Roberto Crema e pelo filósofo, psicólogo e teólogo francês Jean-Ives Leloup, na década de 1980. Eles foram apresentados pelo francês Pierre Weil e, os três juntos organizaram um simpósio sobre o tema que gerou o livro “Normose: A patologia da normalidade”.

Crema afirma que uma pessoa normótica é aquela que se adapta a um contexto e a um sistema doente (muitas vezes consciente disso), e age como a maioria. Leloup, complementa que a normose é uma busca de aprovação que impede o encaminhamento do desejo existente no interior de cada um, interrompendo o fluxo evolutivo e gerando estagnação.

Segundo os autores, as pessoas que se submetem a primazia da conformidade em geral, tornam-se inexoravelmente impessoalistas, formalistas, ritualistas e avessos a riscos e a mudanças. Tornam-se normóticos, preferindo, uma vida sem significado, sem relevância, sem substância inovadora, porém segura.

Neste sentido, a normose obstrui a criatividade, a iniciativa, o senso crítico e a inovação, pois inovar, criar, empreender, fugir ao normal, caminhar rumo ao desconhecido, perder os referenciais habituais, pode ser perigoso e, o mais seguro é fazer “mais do mesmo” e, ser normótico. Mas, segundo Crema, quando temos a necessidade de a todo custo, ser como os outros, não escutamos nossa própria vocação.

Assim, enquanto a maioria se adapta a um ambiente social doente, quem resiste à normose acaba considerado desajustado, por não obedecer ao estado “normal” das coisas. Afinal, não é fácil olhar para nosso próprio umbigo e entender que aquela sensação de perda, de cansaço, de apatia e até a vontade de não fazer, de não agradar, de não presentear e mudar, é uma informação da nossa própria essência pedindo uma evolução, uma quebra de paradigma, uma transcendência para uma vida livre ou menos normal.

Afinal, segundo Crema, cada um de nós tem talentos diversos, mas o normótico padece de falta de empenho em fazer florescer seus dons e enterra seus talentos com medo da própria grandeza, fugindo da sua missão individual e intransferível.
Cuidado com a normose!

 

Você sabia?

A Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), torna público o lançamento do Edital de Chamada Pública Fapesc nº 18/2020 – Prêmio Inovação Catarinense Professor Caspar Erich Stemmer – Edição 2020 e convida estudantes, professores, pesquisadores, instituições, empresas e inventores independentes para se candidatarem ao Prêmio Inovação Catarinense – Professor Caspar Erich Stemmer – Edição 2020. Período de submissão: 29/08/2020 a 03/11/2020. Edital completo: http://www.fapesc.sc.gov.br/edital-de-chamada-publica-fapesc-no-18-2020-premio-inovacao-catarinense-professor-caspar-erich-stemmer-edicao-2020/

 

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