Hostilidade da esquerda, arregimentação agressiva da direita

Pesquisas em psicologia demonstraram que, afora temas conjunturais com incidência marcante em momento de eleições, os eleitores formam perfil psicológico distintivo com forte tendência a votar ou à esquerda ou à direita.

Luiz Hanns, da Casa do Saber, (https://goo.gl/US5Yn2), explana que Jonathan Haidt, baseado em psicologia evolutiva, animal e social, investigou nos cinco continentes, atento a culturas diferentes, alcançando os mesmos resultados.

As pessoas formam suas preferências fundadas em cinco fontes diferentes. Cada uma delas desenvolve comportamentos polarizados. A primeira é a noção de compaixão, que vem junto à aversão a quem causou um mal.

A segunda dupla opositiva associa-se à justiça. Diversos animais, destacadamente macacos, reagem mal à injustiça. O justo pode ser a retribuição à produção efetiva (meritocracia), ou ao esforço por um resultado (dedicação).

A terceira fonte é a noção de identidade, ou de pertencimento. Animais em geral têm tendência a se agrupar, formar “tribos”. Grupos estabelecidos (religiosos, desportivos, políticos etc) tendem a rejeitar e até ser hostis a outros grupos.

A tendência em se relacionar com iguais tem como contrapartida a existência, nos grupos, de quem ouse, não obstante o temor, curiosidade ou excitação em conhecer e, logo, buscar, o diferente, o forasteiro, a novidade.

Uma quarta polaridade relaciona-se ao respeito à ordem e à autoridade. Do mesmo modo, entre animais e humanos observa-se acatamento de hierarquias e regras. No polo oposto está a sensação de submissão e perda de liberdade.

A quinta liga-se à virtude e à pureza. São os tabus, as formas aceitas de comportar-se, as restrições, a autocontenção etc contrapondo-se à vontade de experimentação, de maior liberdade, de promiscuidade, do hedonismo, da curtição etc.

Essas várias polaridades mostram que eleitores mais à esquerda costumam priorizar a ideia da compaixão, da justiça social, da ajuda governamental aos mais fracos, e que valorizam o empenho pelo sucesso mais que o resultado obtido.

Quanto à autoridade, os eleitores de esquerda, bem ao inverso dos de direita, a veem muito negativamente. Desgostam de hierarquia rígida e preocupam-se com abusos e desprestígio de grupos socialmente mais fragilizados.

A direita prestigia a autoridade e a hierarquia. Valoriza como conquistas a regra, a harmonia e a organização social. Tem como difícil escapar do desentendimento e da anarquia. A compaixão lhe é importante, mas restringe-a ao grupo.

Sobre pertencimento, a esquerda é cosmopolita e prefere diversidade, variação de raças, orientações sexuais diferentes etc. A direita estima a identidade e desgosta do diferente; tolera-o, mas prefere-o excluído; pode derivar em ódio.

Quanto à virtude e ao comedimento, são percebidos por eleitores à esquerda como um sufocamento da experimentação e inovação, da ruptura com os usos e costumes etc. O esquerdista quer a vida “em aberto”, sem restrições.

A direita tem como perigoso abrir mão dos tabus, das santidades, da pureza e aceitar a devassidão, a promiscuidade, o hedonismo, a infidelidade. Teme que o rompimento com os usos e costumes leve à decadência e à desagregação social.

Hanns ensina que a região cerebral que lida com a percepção do perigo e com o medo (amígdala) é mais desenvolvida nos direitistas, logo, a percepção de ameaças é mais branda na esquerda. O temor, pois, incide em decisões políticas.

Narra também um teste feito com preferência humana por comportamento de cães. Direitistas elegem cachorros leais ao grupo e agressivos com estranhos. Esquerdistas preferem cachorros brincalhões e que se dão com “qualquer um”.

Diz por fim, que animais, quando o grupo está em risco sob uma opção, mudam para outra, agindo contra suas simpatias, se observam erros (incidência de conjuntura). Seja: há racionalidade (ou causa) na mudança de tendência.

Que correlação eu faria com o momento brasileiro? Primeiro, defino nossa direita: o núcleo duro do nosso direitismo é religioso (moral judaico-cristã), autoritário (apoia ditaduras), anticomunista (e nem é liberal, mas patrimonialista).

Mas esses não são o predicado do povo em geral, que é relaxado quanto a religiões (os evangélicos talvez mudem isso), vota à esquerda (Brizola, Lula, Dilma – até Collor era “antissistema”) e em economia só se interessa pelo resultado.

É plausível, pois, que a descambação à direita seja conjuntural: a roubalheira petista trouxe indignação; a insegurança pública trouxe medo; a hostilidade da esquerda (nós x eles) arregimentou a agressividade da direita. Oxalá a coisa passe.