Você é realmente dono dos seus pensamentos e opiniões?

Fazendo algumas leituras, conheci recentemente a abordagem do jornalista Frankin Foer, que afirma que estamos fazendo parte de uma sociedade que está terceirizando suas capacidades intelectuais para empresas como Apple, Google e Facebook.

Segundo ele, chegamos a um momento da evolução em que estamos deixando para trás as características que mais nos diferenciaram até aqui das outras espécies: o fato de sermos capazes de pensar, imaginar, refletir e conhecer. O que, por consequência, está dando ascendência a uma vida cada vez mais automatizada, fria, padronizada e sem valores reais.

E sabe o que é mais paradoxal disso? Nunca se “leu”, viu e nem se produziu tanta informação, como hoje!

Mas será que estamos lendo, vendo e ouvindo aquilo que desejamos, que precisamos ou que seria importante para a construção de uma sociedade melhor?

Infelizmente, parece que não! Na verdade, nos tornamos dependentes fascinados pela tecnologia e, não estamos muito preocupados com os efeitos que ela está exercendo sobre a maneira como lemos, vemos, ouvimos e processamos a informação; e, consequentemente, sobre os impactos à nossa cognição e ao futuro da humanidade.

Dessa forma, deixamos de lado o fato de que, apesar das TICs facilitarem nossas vidas e, supostamente, encurtarem as distâncias que nos separam, seu formidável e incomparável magnetismo, não é mero acaso.

Estamos sendo submetidos diariamente a mecanismos de vício comportamental, que interferem diretamente na maneira como nos comunicamos e relacionamos uns com os outros, como formamos nossas opiniões, como lidamos com nosso dinheiro e com os limites entre trabalho e lazer (geralmente sem perceber que não respeitamos mais esses limites); e, entre outras coisas, esse comportamento tem nos causado ansiedade: individual e coletiva.

Ou seja, se por um lado a interatividade digital de comunicação instantânea tornaram possível o que antes parecia uma utopia, por outro, precisamos tomar cuidado para que essa agilidade não nos aprisione em uma tensão constante.

O século 21 é um período de transformações ultra-rápidas e profundas, que exigem um poder de adequação e reinvenção muito grande, ao custo (muitas vezes) de grandes frustrações profissionais e pessoais, que acarretam  grandes inseguranças e ansiedades recorrentes.

Não se contaminar pela ansiedade coletiva, pela ansiedade antecipatória e pela enxurrada de informações (a maioria desnecessária) a que somos submetidos (e que também causam essas ansiedades), são desafios que exigem um enorme esforço diário. Por isso, é necessário valorizar o presente e tentar não se preocupar tanto com possíveis ocorrências no futuro. Concentrar-se nas tarefas do agora e viver intensamente um dia de cada vez.

Só assim, conseguiremos fazer coisas que nos dêem prazer e que paralelamente contribuam para a nossa constituição como sujeitos donos de nossos pensamentos e opiniões e capazes de estar no controle da situação e da vida.

 

*Consultora em atividades relacionadas a Inovação e Empreendedorismo e CEO da Integrative – Desenvolvimento Organizacional e Profissional. Possui Doutorado em Educação Cientifica e Tecnológica, Mestrado em Educação, Graduação em Serviço Social e Graduação em Pedagogia. Estuda as implicações sociais da Ciência e da Tecnologia, no intuito de debater sob uma perspectiva crítica, a equação civilizatória contemporânea e fomentar uma postura reflexiva na sociedade.